Cálculo 1 – Volumes por Cascas Cilíndricas

Volumes por Cascas Cilíndricas

O método das cascas cilíndricas é uma técnica poderosa para calcular volumes de sólidos gerados pela rotação de regiões planas em torno de um eixo. Ele é particularmente útil quando a integração pelo método dos discos ou anéis não é a mais simples ou quando envolve funções difíceis de resolver em relação a determinado eixo.

1. Ideia do Método

Imagine uma região plana delimitada por curvas e eixos. Quando essa região é girada em torno de um eixo (como o eixo y), a superfície formada se assemelha a uma “casca cilíndrica”.

Para calcular o volume do sólido, dividimos a região em faixas verticais finas. Ao girar uma dessas faixas em torno do eixo, ela gera uma casca cilíndrica com:

  • Raio: distância do eixo de rotação até a faixa.
  • Altura: o valor da função na faixa considerada.
  • Espessura: um pequeno incremento \( \Delta x \) ou \( \Delta y \).

O volume aproximado da casca é a área lateral da casca vezes a espessura:

\[ V \approx 2 \pi (\text{raio}) \cdot (\text{altura}) \cdot (\text{espessura}). \]

2. Fórmula do Método

No limite, quando a espessura tende a zero, obtemos a integral:

\[ V = \int_a^b 2 \pi (\text{raio}) \cdot (\text{altura}) \, dx. \]

Se giramos em torno do eixo y, o raio é dado pela coordenada x e a altura pela função \( f(x) \), resultando em:

\[ V = 2 \pi \int_a^b x \, f(x) \, dx. \]

3. Quando Usar o Método das Cascas?

Esse método é vantajoso quando:

  • A região é mais fácil de descrever com faixas paralelas ao eixo de rotação.
  • As funções são difíceis de inverter para utilizar o método dos discos.
  • Queremos evitar dividir a integral em várias partes devido à troca de variáveis.

4. Exemplos Resolvidos

Exemplo 1 – Volume de Rotação em Torno do Eixo y

Problema: Determine o volume do sólido gerado pela rotação da região limitada por \( y = x^2 \), \( y = 0 \), \( x = 0 \) e \( x = 2 \) em torno do eixo y.

Solução:

Usando o método das cascas cilíndricas:

\[ V = 2 \pi \int_0^2 x \cdot (x^2) \, dx = 2 \pi \int_0^2 x^3 \, dx. \]

Calculando a integral:

\[ \int_0^2 x^3 dx = \left[ \frac{x^4}{4} \right]_0^2 = \frac{2^4}{4} = 4. \]

Logo:

\[ V = 2 \pi \cdot 4 = 8 \pi \ \text{unidades cúbicas}. \]

Exemplo 2 – Região entre Curvas

Problema: Calcule o volume do sólido gerado pela rotação da região entre \( y = x \) e \( y = x^2 \), com \( x \in [0,1] \), em torno do eixo y.

Solução:

A altura da casca é \( f(x) – g(x) = x – x^2 \) e o raio é \( x \). Assim:

\[ V = 2 \pi \int_0^1 x (x – x^2) \, dx = 2 \pi \int_0^1 (x^2 – x^3) dx. \]

Calculando a integral:

\[ \int_0^1 (x^2 – x^3) dx = \left[ \frac{x^3}{3} – \frac{x^4}{4} \right]_0^1 = \frac{1}{3} – \frac{1}{4} = \frac{1}{12}. \]

Portanto:

\[ V = 2 \pi \cdot \frac{1}{12} = \frac{\pi}{6} \ \text{unidades cúbicas}. \]

Exemplo 3 – Rotação em Torno de uma Reta Paralela ao Eixo

Problema: Determine o volume do sólido obtido pela rotação da região entre \( x = 0 \), \( x = 1 \) e \( y = x^2 \), \( y = 0 \), em torno da reta \( x = 2 \).

Solução:

Agora o raio da casca é \( R = 2 – x \), e a altura é \( x^2 \). Logo:

\[ V = 2 \pi \int_0^1 (2 – x) x^2 dx = 2 \pi \int_0^1 (2x^2 – x^3) dx. \]

Calculando a integral:

\[ \int_0^1 (2x^2 – x^3) dx = \left[ \frac{2x^3}{3} – \frac{x^4}{4} \right]_0^1 = \frac{2}{3} – \frac{1}{4} = \frac{8 – 3}{12} = \frac{5}{12}. \]

Assim:

\[ V = 2 \pi \cdot \frac{5}{12} = \frac{5 \pi}{6} \ \text{unidades cúbicas}. \]

5. Conclusão

O método das cascas cilíndricas é uma alternativa prática ao método dos discos e anéis, principalmente quando as integrais se tornam mais simples ao considerar a altura e o raio diretamente em termos de \(x\) ou \(y\). Seu uso é essencial em diversos problemas de engenharia, arquitetura e física, especialmente na modelagem de sólidos com simetria rotacional.

Volumes por Cascas Cilíndricas e Aplicações Avançadas

O método das cascas cilíndricas é uma técnica extremamente útil para o cálculo de volumes de sólidos de revolução, mas seus conceitos geométricos se estendem a diversos problemas tridimensionais. A seguir, além da introdução clássica, exploraremos uma situação avançada: a interseção de dois cilindros perpendiculares e como a análise da geometria nos permite calcular o volume da região comum.

1. Revisão do Método das Cascas Cilíndricas

Para um sólido obtido ao girar uma região plana em torno de um eixo, o volume pode ser encontrado pela soma dos volumes de “cascas” infinitamente finas:

\[ V = 2 \pi \int_a^b (\text{raio}) \cdot (\text{altura}) \, dx. \]

A altura é definida pela função \( f(x) \) que descreve a região, e o raio é a distância até o eixo de rotação. Essa abordagem é ideal quando a rotação é em torno de um eixo vertical (ou horizontal), mas a região é mais naturalmente descrita em função da variável perpendicular ao eixo.

2. Interseção de Dois Cilindros

Um problema clássico de geometria espacial consiste em determinar o volume da interseção de dois cilindros perpendiculares de mesmo raio \( R \). A região formada lembra uma “sólida lente tridimensional”.

Para visualizar, considere dois cilindros de raio \( R \), um orientado ao longo do eixo x e outro ao longo do eixo y. A interseção dessas duas superfícies gera uma região simétrica em torno da origem.

2.1. A Formação do Quadrado Interno

Quando cortamos a região de interseção por um plano vertical, observamos um quadrado no interior. Essa forma surge porque os limites das superfícies, ao serem projetados, são segmentos de retas (geratrizes dos cilindros). Pela simetria do problema, esse quadrado possui lados iguais, e seu comprimento pode ser determinado conhecendo-se a distância do centro da figura até a borda da interseção.

Seja \( t \) a distância vertical a partir do centro (eixo z). Para cada valor de \( t \), o lado do quadrado pode ser expresso como:

\[ L(t) = 2 \sqrt{R^2 – t^2}. \]

A área da seção quadrada em altura \( t \) é então:

\[ A(t) = [L(t)]^2 = 4 (R^2 – t^2). \]

2.2. Volume da Interseção

O volume total é obtido integrando a área da seção ao longo do eixo z, de \(-R\) até \( R \):

\[ V = \int_{-R}^{R} A(t) \, dt = \int_{-R}^{R} 4 (R^2 – t^2) dt. \]

Calculando a integral:

\[ V = 4 \int_{-R}^{R} (R^2 – t^2) dt = 4 \left[ R^2 t – \frac{t^3}{3} \right]_{-R}^{R}. \]

Devido à simetria, basta calcular de \(0\) a \(R\) e multiplicar por 2:

\[ V = 8 \left[ R^2 t – \frac{t^3}{3} \right]_{0}^{R} = 8 \left( R^3 – \frac{R^3}{3} \right) = \frac{16 R^3}{3}. \]

3. Conexão com o Método das Cascas

Embora a fórmula acima utilize seções quadradas, é possível adaptar o raciocínio para cascas cilíndricas, cortando a região em torno de um eixo central e somando volumes de camadas cilíndricas finas. Para cada valor de \( x \), a “altura” da casca corresponderá ao comprimento do segmento que está dentro do sólido de interseção, enquanto o “raio” será a distância até o eixo de simetria.

4. Aplicações Físicas e Valor Médio

A noção de volume, assim como a de área, está profundamente conectada ao cálculo de trabalho em física e ao conceito de valor médio de funções. Por exemplo, se \( v(t) \) representa uma velocidade, a distância percorrida em um intervalo \([t_1, t_2]\) é dada pela integral:

\[ d = \int_{t_1}^{t_2} v(t) \, dt. \]

Logo, a velocidade média é:

\[ v_m = \frac{1}{t_2 – t_1} \int_{t_1}^{t_2} v(t) \, dt. \]

De forma análoga, em problemas tridimensionais, podemos calcular a média de áreas ou volumes como integrais ponderadas, úteis na determinação de centros de massa e outras grandezas físicas.

5. Exercícios Resolvidos

Exercício 1 – Volume de Interseção de Dois Cilindros

Problema: Dois cilindros de raio \( R = 2 \) m se cruzam ortogonalmente. Determine o volume da região de interseção.

Solução:

Usamos a fórmula:

\[ V = \frac{16 R^3}{3} = \frac{16 \cdot 2^3}{3} = \frac{16 \cdot 8}{3} = \frac{128}{3} \, m^3. \]

Exercício 2 – Volume por Cascas

Problema: Encontre o volume gerado pela rotação da região sob \( y = \sqrt{x} \) no intervalo \( x \in [0,4] \), em torno do eixo y, utilizando cascas cilíndricas.

Solução:

O raio da casca é \( x \) e a altura é \( \sqrt{x} \), assim:

\[ V = 2 \pi \int_0^4 x \sqrt{x} \, dx = 2 \pi \int_0^4 x^{3/2} \, dx. \]

Integrando:

\[ \int_0^4 x^{3/2} dx = \left[ \frac{2}{5} x^{5/2} \right]_0^4 = \frac{2}{5} (4^{5/2}) = \frac{2}{5} \cdot 32 = \frac{64}{5}. \]

Portanto:

\[ V = 2 \pi \cdot \frac{64}{5} = \frac{128 \pi}{5} \, \text{unidades cúbicas}. \]

6. Conclusão

O estudo dos volumes por cascas cilíndricas, combinado com análises geométricas como a da interseção de cilindros, mostra a versatilidade da integração em problemas complexos. Além do cálculo puro, conceitos como valor médio, trabalho e centro de massa estão intimamente relacionados a essas técnicas, reforçando a importância do Cálculo em aplicações físicas e geométricas.

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Disponível no blog Matemática Hoje

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